Kawany Lourdes Tupinambá
A Cacique Kawany Lourdes Tupinambá (nome brasileiro: Maria de Lourdes Lima Soares) é a atual líder do Movimento dos Indígenas não Aldeados do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (MInA), assumindo esta responsabilidade quando a fundadora do movimento, Cacique Kaun Poty Guarani (nome brasileiro: Maria Virginita de Oliveira), faleceu em 2018 ("cruzou o grande rio").
Natural do Cariri cearense, da região da Chapada do Araripe, aos 14 anos foi forçada a se casar ("a destruição da minha vida"). Fugindo de tais agruras e em busca de sua mãe, que por sua vez já havia fugido com outros indígenas da tomada de suas terras ancestrais por "coronéis", chegou em Uberlândia em 1990, com uma filha nos braços e grávida de um menino. Contraiu aqui novo matrimônio, teve mais três filhos, mas se viu novamente sozinha até que, em 2004, a saudosa Cacique Poty a "resgatou".
A partir de 2018 assumiu que "Um guerreiro nunca foge da luta, nem que caia, mas ele levanta na frente, então se ela aceitou eu como uma guerreira, como filha dela, eu quero levar adiante, só mesmo o grande rio pra me tirar dessa história". A liderança herdada pela Cacique Tupinambá torna-a responsável por representar cerca de oitenta indígenas de várias etnias em busca de reconhecimento por parte das autoridades competentes.
Hoje a maior demanda e sonho do MInA é o reconhecimento de sua memória enquanto grupo, das suas terras ancestrais e da identidade indígena, através da luta pela destinação de área pública para território em área urbana com acesso à água e vegetação nativa para criação de aldeia com saneamento adequado, de que nesse território as famílias tenham condições de gerar trabalho e renda a partir dos conhecimentos tradicionais, produzindo alimentos e comercializando os excedentes, e que ainda possam ter acesso à saúde psicossocial a fim de fortalecer a relação dos indígenas com a natureza e o território.
O MInA é composto por núcleos que se encontram divididos em dez famílias na cidade de Santa Vitória, quinze famílias em Ituiutaba, onze em Campina Verde e vinte na cidade de Araxá, além de Uberlândia. Por estarem à revelia da imagem e identidade cristalizada do indígena ídilico, essas famílias são colocadas pela sociedade no bojo e na condição de pobres urbanos em geral.
O movimento de resgate de suas tradições está continuamente relacionado ao trabalho da memória, na medida em que o panorama de mudança futura tem a possibilidade de alterar, manter, significar e ressignificar narrativas pretéritas, de modo a tê-las como instrumentos da ação política. Em pouco tempo de liderança, a Cacique Kawany Lourdes Tupinambá enfrentou ameaças, disputas e cobiças provenientes principamente de homens machistas que dirigiam às mulheres do local palavras de horror. Em defesa da reivindicação principal de seus representados, proferiu em um momento de tensão no local da atual sede do Movimento: "AQUI NÃO É MEU, AQUI NÃO É SEU, AQUI É DO MInA, E A PARTIR DE HOJE CHAMARÁ MEMORIAL CACIQUE KAUN POTY GUARANI!".
A Cacique Kawany Tupinambá ainda nos lembra que "o brasileiro, ele não é só brasileiro aqui no Brasil, ele é brasileiro nos Estados Unidos, ele é brasileiro aonde ele chegar. Então o índio, ele não é índio só nas matas, só na cultura dele lá, nu ou fazendo as coisas dele lá dentro, ele é índio aonde ele chegar, em qualquer território."